JOGADORES ANÔNIMOS

ESCRITÓRIO REGIONAL DE SERVIÇO DE JOGADORES ANÔNIMOS DO BRASIL - ERSJAB

JOGADORES ANÔNIMOS ESCRITÓRIO DO RIO DE JANEIRO - JAERJ

DEPOIMENTOS

RENASCIDO DAS CINZAS

Em 1986, quando eu tinha apenas 17 anos de idade, joguei pela primeira vez e ganhei com uma única cartela de bingo um valor muito alto em dinheiro, em uma festa japonesa chamada Kaikan em Guarulhos, nossa foi uma felicidade tão grande, que pulava de alegrias, quando cheguei em casa e entreguei todo dinheiro a minha mãe. Desconfiada ela foi até o local para confirmar se era verdade, o dinheiro deu para comprar alimentos e roupas para familiar toda.
Era o inicio da minha compulsão, pois naquela época comecei a jogar baralho, dominó, loterias em geral com apostas pequenas, que foi aumentando com o tempo. O meu primeiro fundo de poço foi no ano 2000,  quando perdi praticamente tudo na minha vida, um carro semi novo, uma dívida enorme em bancos, separação do primeiro casamento e desempregado. Foram momentos difíceis, pois fiquei muito deprimido e com pensamentos de tirar a minha própria vida.
No ano de 2002, o Presidente da empresa em que eu tinha trabalhado me deu uma nova oportunidade de emprego e no ano de 2003, voltei a ter a carteira registrada e prometi para mim mesmo que nunca mais voltaria a jogar. Aquele foi ano mais importante da minha vida, pois voltei ao trabalho com muita disposição e tive muita progressão. Ganhei muito dinheiro e paguei todas as minhas dívidas, mesmo não conhecendo os Jogadores Anônimos, fiquei noivo novamente e a vida começou a melhorar muito. Mas em 2005, tive uma recaída e voltei ao tormento dos jogos. Em junho de 2007,a coisa ficou muito séria, pois tinha pedido para sair da empresa, com ilusão para trabalhar em outra empresa e ganhar mais dinheiro, mas a mudança demorou horrivelmente 6 meses e nesse tempo gastei todo o meu dinheiro da rescisão e FGTS  no jogo. Fiquei praticamente sem dinheiro e  desesperado e comecei pedir dinheiro emprestado para parentes e amigos para viajar, após fazer ligações para o meu futuro chefe.
Chegando na nova cidade, a empresa alugou uma casa e eu tive que fazer uma divida de R$ 4.100,00 no cartão de crédito para comprar alguns móveis, mesmo sabendo que não poderia pagar e nem tinha recebido o primeiro salário ainda. Nesta cidade eu não jogava, pois tinha medo de ser descoberto pelo meu chefe, pois a cidade é muito pequena e todos se conheciam, por isso não tive interesse em procurar casa de jogos. Mas quando ia visitar a minha noiva na época,  a primeira coisa que eu fazia era procurar uma casa de jogos antes de chegar ao meu destino. Foi durante uma das minhas visitas em abril de 2008 que a minha noiva ficou grávida, para piorar ainda mais a minha situação financeira. Fiquei assustado com a noticia que eu iria ser pai pela primeira vez e fiquei pensando como seria a minha vida após o nascimento da minha filha, pois era um jogador compulsivo e não tinha controle sobre mim  quanto mais de uma criança inocente que estava prestes a chegar ao mundo.

A partir deste momento as mentiras aumentaram, dizendo para a mãe da minha filha que eu tinha uma reserva de R$ 10.000,00, mas na verdade erao contrário, pois eu estava devendo mais R$ 30.000,00 na praça. Chegando o dia 19 de janeiro de 2009, nasceu a menina mais linda deste mundo, pois já tinha pedido para colocar o nome dela de Vitória. A noiva, mesmo com raiva, aceitou, pois naquele momento, ela já estava sabendo que eu era um jogador compulsivo e não tinha nada de dinheiro.Diante disso fiz outra loucura e pedir a minha dispensa da empresa no interior, para acompanhar o crescimento da Vitoria e pagar as dividas do hospital particular. Naquela ocasião paguei a entrada com o dinheiro que eu tinha emprestado do meu pai e depois um amigo empresário meu deu R$ 1.000,00 de presente e deixei 4 cheques pré datados para quitação das demais  despesas. Naquele dia saí do Hospital, sem saber o que iria fazer da minha vida, como iria pagar as dividas, desempregado, sem crédito na praça, mas nessa data ainda joguei no jogo do bicho os números da hora que a minha filha nasceu e joguei baralho também.

Após tudo isso no ato do meu medo do futuro, pedi ao meu amigo um trabalho e um local para morar, pela nossa amizade. Ele disse que iria me ligar, pois estava abrindo uma micro empresa de materiais importados. Na semana o mesmo me ligou, convidando para ir até o local onde eu iria trabalhar e morar, num sitio isolado em Itaquá, chegando já tinha pedreiros e ajudantes trabalhando, demolindo algumas partes de uma casa antiga, para reconstrução do depósito de materiais, local  onde eu iria trabalhar e morar numa pequena casa ao lado. Imediatamente já comecei a trabalhar como ajudante para reforma da casa. Durante a demolição encontramos vários compartimentos de vidros com dezenas de cobras mortas e mantida em um liquido, de cara  fiquei assustado, pois tinha muito medo de cobras, ai pensei será que essas cobras foram pegas no mato que ficava atrás da casa. Um dos trabalhadores confirmou a minha dúvida, ai o meu coração começou acelerar, pois iria morar naquele local sozinho e sem vizinhos. Morei ali, isolado, durante 1 ano e graças a Deus, por um milagre, não fui picado pelas  cobras que encontrei durante a minha estadia naquele lugar.
Durante o mês de maio de 2009,  eu estava assistindo TV no programa “Casos de Família”  e a história daquele dia era sobre um jogador compulsivo que deixava seus filhos passar fome e logo fiquei interessado e assistir até o final. No final o psicólogo do programa informou a Irmandade de Jogadores Anônimos, passando o site e o telefone do escritório do JA. Anotei o numero e no outro dia liguei para o escritório e não tinha ninguém para atender naquele momento, foi quando deixei o recado na secretaria eletrônica no outro dia, ligou uma pessoa atenciosa que hoje chamo de amigo e irmão, o mesmo informou os dias das reuniões do grupo Armênia e o grupo São Miguel Paulista (atual Arthur Alvim). Mesmo assim continuei a jogar. Chegando dia 31/05/2009 (domingo) “dia em que caiu o avião da Air France”, foi um dia muito difícil, pois tinha perdido todo dinheiro que tinha emprestado para pagar  a ultima parcela do hospital. Fiquei desesperado, chorei muito naquela noite e pensei em tirar a minha própria vida e não consegui dormir. Quando amanheceu o dia tomei uma decisão de procurar ajuda, fui procurar o grupo de JA em São Miguel Paulista na zona Leste, quando cheguei as portas estavam fechadas, fiquei pensando o que faria naquele momento, de repente veio o rapaz dizendo que a reunião do JA seria na quarta feira, voltei para casa triste, mas pensando em voltar e no dia 03/06/2009 cheguei ao grupo totalmente arrasado emocionalmente, moralmente, financeiramente, profissionalmente e familiar. Quando começou a reunião e o coordenador daquela noite me apresentou e disse “Você é a pessoa mais importante da sala” não me contive e comecei a chorar muito e a cada depoimentos que eu ouvia, escutava a  mesma frase. Foi quando naquele instante, eu decidi que ali seria o lugar que salvaria a minha vida. Aceitei o programa de imediato e Só Por Hoje, pois no dia 03/06/2020, completei 11 anos de abstinência. Nesse período, consegui pagar 90% das minhas dividas com bancos, agiotas, familiares e amigos, voltei trabalhar no mesmo setor profissional como encarregado, consegui financiar um carro zero. Eu sei,se não estivesse encontrado o JA, muito provavelmente eu teria virado um mendigo, um criminoso atrás das grades e o mais certo de todos seria a morte.

Agradeço profundamente do meu coração a Deus, todos os companheiros e companheiras de JA e JOG ANON e especial a minha filha por ter me dado inspiração para me transformar em uma nova pessoa com muita esperança, prosperidade e felicidade.

24 HORAS DE PAZ, SERENIDADE E ABSTINÊNCIA.

E – Curitiba PR

Uma luz no fim do túnel

Foi através de um programa de TV que cheguei arrastado como uma cobra, ao JA, em 03/06/2009, completamente arrasado moral e financeiramente e, com pensamento de tirar a minha própria vida.

Chegando à sala fui recebido por um dos irmãos que me explicou o que significava aquela sala de Jogadores Anônimos. Logo em seguida começaram os depoimentos e, logo me dei conta que as histórias faladas eram iguais às minhas e que, aquele lugar seria a única luz na escuridão para a minha vida. Hoje, estou completando 1 ano, 2 meses e 10 dias abstinente e vivendo um dia de cada vez para não cair no abismo novamente. Agora estou colhendo as coisas ruins que eu plantei no passado durante a  trajetória de jogador compulsivo. Mas, se depender de mim e se eu conseguir seguir os Passos de JA, em breve colherei bons frutos.

Atualmente estou seguindo assiduamente o décimo segundo passo de recuperação  para  levar a mensagem aos jogadores compulsivos e outros adictos que sofrem.

Muito obrigado aos irmãos dos grupos de JA pela força que transmitem! Sei que a estrada é cheia de espinhos e de obstáculos, mas, durante a caminhada encontraremos flores.

A todos, eu desejo 24 horas de paz, serenidade e abstinência.

EFS – São Paulo – Enviado em agosto de 2010.

 É preciso eliminar defeitos de caráter

 

Tinha uma dificuldade grande em entender e perceber a importância da prática dos passos de recuperação.

Até que em um determinado momento, muito incomodado com o vício do cigarro, comentei com um companheiro de outra irmandade de Anônimos sobre esse incômodo. Ele simplesmente me disse: Aplique o 6º passo de recuperação!

A partir desse momento, eu li e reli várias vezes o 6º passo, tentando entender e ver como colocar em prática; encarei como um defeito que tinha que ser removido, falei a respeito com um companheiro, então senti que estava pronto para livrar-me do defeito. Era questão de tempo. Eu não só consegui livrar-me desse defeito, como também, consegui ter mais clareza sobre o 6º passo de recuperação.

Apesar de ter muitos defeitos de caráter que ainda precisam ser removidos, no processo de recuperação eles vão se tornando empecilhos em nossas vidas. Concentrar esforço na prática do 6º passo significa caminhar em direção ao crescimento espiritual.

Mateus – São Paulo – Enviado em julho de 2010.

CINCO ANOS… 20/06/2016

 

Meu nome é R., jogador compulsivo em recuperação a exatos cinco anos! Agradecido ao Meu Poder Superior que compreendo como Jesus Cristo, minha Família, Irmandade e Amigos.

Na condição de compulsivo e já compreendendo que só posso viver um dia de cada vez, não ouso a me questionar se cinco anos já é um bom tempo para me sentir mais forte em relação a minha doença. Prefiro manter minha vigilância atenta ás armadinhas emocionais que a vida me apresenta, pois, hoje me defino e aceito que tenho instalado em mim uma grave enfermidade, que fazendo movimentos contrários com tudo que aprendi durante esse período, me dará a paz buscada de uma vida normal, coisa que a escravidão pelo vício me tirou durante anos.

Quando falo que DEVAGAR SE VAI AO LONGE é porque vivi muito tempo o contrário dessa frase, vivia numa velocidade sem destino, sem respeito, sem obediência, enfim… sem Vida! Hoje enfrento enormes dificuldades em muitos setores de minha caminhada, mas o importante mesmo é que tenho consciência que preciso ficar de frente com as situação e usando a honestidade e certo que sempre existirão problemas, e meu crescimento como ser humano e espiritual serão compensados.

Meus dias sem fazer apostas são contados com entendimento, pois se for dar uma passadinha no meu passado verei o quanto foi difícil dar o PRIMEIRO PASSO, ficar um dia sem apostar? Nunca imaginei que conseguiria, não acreditava que houvesse essa chance, não tinha força, não tinha Fé! Por isso que sou vigilante, sou atuante em minha Irmandade da forma que posso, hoje posso dizer que conheci a Imundice e hoje vivo em lençóis limpos.

O jogo em “parte de minha Vida” foi progressivo como é todo vício, a ferida emocional, física, financeira e espiritual seguirá aberta por muito tempo, mais farei os curativos necessários para que também um dia de cada vez seja fechado, e sempre aceitando minhas imperfeições com consciência e usar minha boa vontade pra sempre estar com a mão aberta para ajudar quem sofre nas garras dessa maldita doença.

A Irmandade de Jogadores Anônimos é o melhor hospital e os membros os melhores médicos. Lá que encontro meu passado e meu presente, lá onde faço minhas escolhas, lá onde tomo meu medicamento, é lá que verbalizo minhas dúvidas e recebo meus diagnósticos.

A minha Gratidão é tamanha que não achei a palavra assertiva pra pronunciar!

Obrigado Poder Superior, Família, Irmandade e Amigos!

R.

 O Programa de Recuperação de JA

Meu nome é Paula. Sou uma jogadora compulsiva em recuperação.

Cheguei a esta irmandade em 1997, arrasada moral, emocional e financeiramente. Tinha perdido completamente o controle sobre a minha vida.

Minha recuperação não foi fácil, pois tudo estava muito confuso dentro de mim. Já não sabia o que mais me atormentava, se o sofrimento moral ou se as perdas materiais, pois cheguei quando havia acabado com todas as reservas feitas durante uma vida. Cheguei para parar de jogar, mas encontrei um Programa que não era só para parar de jogar! Encontrei um Programa espiritual profundo. Foi difícil parar de jogar, por ter demorado a entender o Programa. Brigava muito com as perdas financeiras.

Só entrei no Programa quando admiti as perdas materiais. E entreguei minha vida a um Poder Superior, que para mim é Deus. Só então entrei em recuperação e consegui parar de jogar e resgatar minha vida e meus antigos valores.

Quando cheguei logo nas primeiras reuniões, depois de desabafar e colocar para fora todo o lixo que estava pesando e me incomodando, quis logo praticar o 12º Passo. Apaixonei-me por ele logo na primeira noite em que li toda a apostila. Ledo engano. Na verdade eu queria pular todos os outros passos, e ir logo praticar o último.  Só Deus sabe quantas vezes fui do 1º ao 12º Passo, sem ter de fato feito o 1º Passo. Foi minha filha que nunca freqüentou uma sala de J.A. ou Jog Anon, que me alertou: Sabe por que você recaiu? Porque você foi do 1º ao 12º Passo, mas ainda não aceitou o 1º. Estava certa, mas, continuei insistindo.

Passei por muitas dificuldades emocionais. Aqui descobri como o meu emocional sempre esteve mal, e como isto me levava às recaídas. Mas, com a ajuda de Deus e dos irmãos e irmãs em JA, fui encontrando o equilíbrio.

Sou profundamente agradecida aos irmãos e irmãs em JA: Aos que permaneceram na irmandade e aos que só passaram por ela e não permaneceram; mas, muito contribuíram com seus depoimentos para a minha recuperação. Penso nessas pessoas e Rogo a Deus por elas.

Graças a todos aprendi a conjugar o verbo na 1ª pessoa do plural, pois cada irmão ou irmã que chega a JA faz parte de nós, pois somos uma irmandade. Como uma irmã costuma dizer; os irmãos se desentendem, brigam, mas se algum precisar, os irmãos estão sempre presentes para ajudar.

Desejo a vocês, meus irmãos e irmãs em JA, o mesmo que desejo para mim: vinte e quatro horas de Paz, Serenidade e Abstinência.

Aqui encontrei Deus e com Deus encontrei a Paz, Serenidade e mantenho minha abstinência do jogo

PAULA – São Paulo – Enviado em fevereiro de 2009.

 Sou (R), 47 anos, joguei progressivamente uns 20 anos, e só por hoje em recuperação a exatos 6 anos, sem nenhum tipo de aposta; muito agradecido a meu também progressivo novo modo de viver e de pensar.

Essa data é mais importante do que o dia que vim ao mundo, porque através de minha irmã mais velha, que a tenho como meu alicerce espiritual, me disse com simplicidade que eu estava doente, e precisava ser tratado; daí, totalmente sem rumo, aquilo soou como uma chance de continuar a viver, fui em busca sem nenhuma ESPERANÇA habitada em mim e conheci o LIXO humano criado também por mim durante a minha vida de jogatina, minha vida de egoísmo, minha vida de mentiras e trapaças que o jogo me levou… Cheguei ao fundo do poço. Cavei muito meu buraco, machuquei intensamente quem não merecia e perdi a melhor oferta da vida: VIVER; mas, existia uma instituição que poderia me acolher, fui sem saber pra onde estava indo, sabe aquela coisa sem jeito? Era exatamente assim! Na verdade queria fugir de tudo e de todos… Como um fugitivo, um criminoso! Na época me perguntava: O que procurava? O que queria da Vida? O que fiz a mim e aos próximos? Certo que naquele momento não teria resposta, pois estava tomado pela minha compulsão e minha insanidade; ai preferir ficar na gaiola; protegido dos problemas, das cobranças, das pessoas e me oportunizando a minha ÚLTIMA chance de voltar a normalidade de viver. Sabe aquilo que a vida nos mostra ao longo de nossa passagem: tudo que acionamos tem bons e ruins resultados… Comecei a acreditar que poderia fazer UM NOVO COMEÇO e por consequência um melhor FIM. Conheci minha doença e acreditei que ela era digna de respeito; a compulsão era uma realidade na minha rotina, fui apresentado aos meus iguais, retomei meu contato com meu Poder Superior e segui passo a passo a minha caminhada.

Minha Vida tomou um novo rumo, recheada de problemas que outrora nem ligava, situações adversas a minha vontade, que na jogatina não me deixava sofrer. Passei a enfrentar reais situações com retidão e entendimento, aceitando o que não poderia modificar e tendo coragem para modificar o que estava ao meu alcance. Nada mais quem minha OBRIGAÇÃO, ficar distante de minha primeira aposta!

Só por hoje, completo 6 anos de realidade de Vida! (R)

Libertando-se da Compulsão

Eu devia ter uns seis aninhos quando fiz um jogo de bicho, pela primeira vez, e ganhei! Fiquei radiante de alegria e imediatamente comprei bola, pipa e carretel de linha. Lembro que naquela época, minha mãe lavava e passava muita roupa para o sustento da casa. No tanque, acendia um cigarro atrás do outro, enquanto os unheiros purgavam nas mãos doloridas. Eu, pequeno, já entendia tudo e não gostava nem um pouco de ser pobre. Queria ter bola, brinquedos e comer maçã – fruta que na época custava muito caro. Por isso vibrei ao ganhar a primeira aposta.

Minha mãe também jogava e ganhava muitas vezes no bicho – pelo menos era essa a impressão que eu e toda a vizinhança tinha. Quando ganhava no bicho ela comprava doces e distribuía para as crianças. Como ela não sabia escrever, recorria a mim para fazer seu jogo. Então, logo cedo, decorei a tabela dos bichos.

O tempo passou e eu vez ou outra jogava, sem exagero, até porque adolescente nem tinha dinheiro para isso. Fiquei adulto e comecei a trabalhar. Continuei jogando pouco porque pouco ganhava.

Quando me casei, no início dos anos 80, meu jogo já não era normal. Além do bicho, jogava nas loterias esportivas e loterias de número. Tinha a esperança de ganhar uma bolada e resolver todos os problemas financeiros que sempre me acompanharam. Nessa época, surguiram as primeiras maquininhas de vídeo poker que foram instaladas nos botequins do Rio de Janeiro. Comecei a perder instantâneamente todo dinheiro que tinha no bolso jogando vídeo poker e respirei aliviado quando aquelas maquininhas foram recolhidas pela polícia. No entanto, continuei jogando nas loterias e jogo de bicho…

Ao entrar para o serviço público ganhei conta bancária e talões de cheque. Ganhei também o assédio de agiotas que, naquela época, circulavam na repartição. Comecei a me endividar com eles para manter o volume de jogo que crescia cada vez mais. Chegaram os filhos: o primeiro em 87 e dois gêmeos em 89 – eu estava encrencado! Embora ganhasse um pouco melhor, já estava jogando muito mais! Fazia estrepolias pegando dinheiro com um agiota para pagar ao outro e vice-versa! Quanto mais desesperado ficava, mais aumentava meu jogo! Nos finais de semana eu não ficava em casa e sim na praça, jogando cartas com os idosos ou jogando tranca (a valer) com outros jogadores. Minha mulher, repetidas vezes, aparecia na esquina já à noite, de mãos na cintura e perguntando se eu não iria almoçar! Envergonhado ía para casa ouvindo poucas e boas e prometendo a mim mesmo que não faria mais aquilo, até que no próximo fim de semana tudo se repetisse… Eu não sabia lidar com os meus problemas, por isso ficava jogando na praça, agravando-os ainda mais.

Outras modalidades de jogos surgiram no cardápio dos jogadores compulsivos brasileiros: raspadinhas, senas, novas maquininhas… levando-os à bancarrota mais rapidamente. Em 1991, desesperado procurei ajuda em Neuróticos Anônimos, depois de ligar para os Alcóolicos Anônimos pedindo uma suposta ajuda. O atendente de AA falou ao telefone: “Você deve procurar os Neuróticos Anônimos que eles vão lhe ajudar!” – naquela época não havia grupos de Jogadores Anônimos em funcionamento no Brasil. Depois de muita relutância procurei o N/A.

Antes de chegar ao N/A estava fortemente compulsivo. Não podia pegar em dinheiro que iria jogar. Por mais que eu prometesse a mim mesmo – e eu não queria mais jogar – mas não conseguia. Estava perdendo todo meu salário no dia do pagamento. Já mentira dizendo que tinha sido assaltado no dia do pagamento. Já não tinha mais desculpas quando, certo dia, joguei de novo todo o salário e não sabia como encarar a mulher e três filhos, que me esperavam com as contas a pagar e o supermercado a fazer. Naquele dia, quase me joguei embaixo de um carro na Av. Pres. Vargas, mas num arroubo de esperança tive a ídeia de procurar o Pinel. Lá me deram uma injeção e me mandaram para casa, recomendando-me que procurasse um psicólogo. Em casa atirei-me na cama e contei, sabe Deus como(!), à mulher assustada que perdera o dinheiro no jogo e que precisava de ajuda. Meu irmão chegou para me socorrer dizendo que aquilo ía passar e se eu tivesse força de vontade, não voltaria a jogar. Eu sabia que não era assim: estava tentando ter forças à muito e nada adiantava. Então fui procurar o N/A.

Em Neuróticos Anônimos fui muito bem recebido, apesar de não haver nenhum jogador compulsivo naquele grupo formado para pessoas que têm depressão, fobia, pãnico e outros sintomas emocionais. Tive contato com o Programa de Recuperação dos 12 Passos e já podia falar de meus problemas emocionais e de jogo. Deu certo e eu parei de jogar – o mais importante: não tive mais vontade de jogar com menos de três meses frequentando o grupo. Ali continuei me aprofundando no conhecimento do Programa de Recuperação e participando ativamente. Sentía-me aliviado e feliz. Passei a acompanhar os membros de Neuróticos Anônimos nas divulgações da irmandade junto aos médicos.

A partir de 1993, já com dois anos de abstinência do jogo, dei sequência à minha recuperação em Jogadores Anônimos. Por isso, posso afirmar àqueles jogadores compulsivos que estão distantes dos grupos de JA que é possível parar de jogar frequentando qualquer grupo anônimos baseado nos 12 Passos de recuperação – desde que este grupo aceite o jogador como frequentador. Basta ao jogador que possua o desejo de parar de jogar e não meça esforços para obter este intento.

Hoje, sinto-me recuperado da compulsão e venho tendo uma vida normal feliz – longe do jogo.

Abraços!

Rio de Janeiro

 Um novo modo de pensar e viver longe do jogo.

 

Sou um jogador compulsivo em recuperação, não faço a primeira aposta há 4 anos e 1 mês. Manterei o anonimato, um dos princípios básicos de Jogadores Anônimos.

Do fundo do coração digo que minha vida pode ser dividida em antes de Jogadores Anônimos e depois de Jogadores Anônimos. Aprendi e compreendi em JA que é possível encontrar um novo modo de pensar e viver! Viver sem o jogo parecia impossível, mas agora um dia de cada vez venho desfrutando dessa liberdade maravilhosa!

O jogo em um primeiro momento parecia inofensivo. Era um passatempo, uma diversão. Aqueles dois reais, cinco reais não faziam mal a ninguém! E a adrenalina, prazer que dava na hora? E aquela sensação indescritível quando tinha um grande ganho? E aquela sensação de que por alguns momentos eu era poderoso ou poderia me tornar poderoso?

O jogo me enganou! Eu atravessei a linha invisível do jogo fora do controle! Os dois reais viraram dez, cinquenta. E depois já apostava cem, quinhentos reais. Mil reais em uma aposta! Jogava dinheiro que não tinha. E o passatempo? Que passatempo? Eu pensava quase que 24 horas por dia em jogo! Isso é passatempo? O prazer era falso! Virou angústia, ansiedade, tensão! Todo dinheiro que ganhava no jogo voltava para o jogo! Se eu perdia no jogo, jogava novamente para tentar recuperar, ou seja, passei a ser escravo dessa compulsão. Não agia mais com razão, discernimento. Cheguei ali no fundo do poço (cada um sabe qual é o seu), meus defeitos de caráter aflorados, deprimido, sem dinheiro, com três empréstimos para pagar por dívidas contraídas por causa do jogo, com meu casamento à beira da destruição…

Por um desses milagres da vida, fui a uma reunião de Jogadores Anônimos. Cheguei descrente e achando que ia ouvir um monte de baboseira, sermão, etc. Que arrogante eu era! Logo vi que os membros não faziam julgamentos uns dos outros. Logo me identifiquei com os depoimentos de outras pessoas. As modalidades de jogo variavam (a minha era apostas esportivas), mas o padrão de comportamento do jogador compulsivo era o mesmo! Todos ali eram como eu e dividiam o propósito comum de ficarem longe da primeira aposta! Aos poucos fui me soltando, escutava com atenção os depoimentos dos demais companheiros e contava minha história para eles, meus problemas, o que o jogo tinha feito com minha vida, etc. Contava também sobre minhas conquistas diárias, problemas diários também (eles fazem parte da vida). Tirava um caminhão das minhas costas a cada reunião e não me sentia mais sozinho! Passei também a identificar meus defeitos como ser humano e tentar me tornar uma versão melhor de mim mesmo. E ali nas reuniões, nessa troca de experiências, força, fé e esperança, um dia de cada vez, fui ganhando tempo de abstinência.

Gente, quantas vezes eu tentei parar de jogar sozinho!!! Até jurei de pé junto (várias vezes) que ia parar de jogar! Fazia inúmeras promessas! Mas logo voltava a jogar. Agora em um Grupo de mútua ajuda eu estou conseguindo!

Fechada a torneira dos gastos com o jogo o problema financeiro foi se acertando aos poucos. Meu casamento foi reconstruído e hoje fomos abençoados com o nascimento da minha primeira filha! Aprendi a valorizar a família!  Aprendi a gostar de coisas novas. Aprendi muito com meus erros do passado, mas ao mesmo tempo me perdoei e passei a desenhar uma nova história para minha vida. Existe uma frase na literatura de Jogadores Anônimos que é simples, mas é muito sábia: “Faça coisas boas, que boas coisas vão lhe acontecer”! E é isso que venho experimentando.

Sim, há vida sem o jogo! Se você está lendo esse depoimento e acha que o jogo se tornou um problema maior na sua vida, se dê a oportunidade de conhecer Jogadores Anônimos! Você será muito bem acolhido como nunca imaginou ser. Honestidade, boa vontade e mente aberta! É possível parar de jogar!

Abraços fraternos, xxxxxx

 Primeiro Passo de Recuperação

 

Para mim, não foi complicado dar o 1º passo. Antes mesmo de descer aqueles degraus da igreja Sta. Efigênia em direção à minha primeira reunião, já havia admitido e aceito minha total derrota e perda de domínio de minha vida.

Cheguei literalmente de joelhos, pois ao adentrar a igreja procurei pela imagem de S.Judas Tadeu, a quem se atribui ser o santo das causas impossíveis e de casos desesperados como o meu. Talvez não tenha identificado sua imagem, mas creio que mesmo assim o santo diante do qual me ajoelhei e orei deve ter passado o recado.

Quando cheguei a J.A. não havia mais portas em que bater, nem mesmo batentes haviam sobrado, para dar uma dimensão da realidade que me cercava. Precisava de uma janela, uma fresta que fosse, de esperança de resgate de minha sanidade, de minha integridade, diria mesmo do  meu EU, de minha personalidade. O jogo havia me transformado em uma “COISA”.

Hoje, decorridos, 02 anos e 02 meses, J.A vem resgatando minha verdadeira essência, sei que os rescaldos de tanta destruição ainda demandarão tempo considerável para serem sanados, muitas pontes que detonei com minha compulsão não poderão ser reconstruídas, resta-me hoje, tentar lidar com sentimentos de culpa, auto-piedade, frustração e ressentimentos que vez ou outra afloram em meus pensamentos e abalam minha estrutura emocional.

Situações altamente constrangedoras e humilhantes também tive que passar nesse período de abstinência, afinal, são as conseqüências. Seria irreal imaginar que poderia me safar delas, de todo esse doloroso processo de recuperação. Mas como jogador que continuo sendo, hoje eu aposto no programa de Jogadores Anônimos, uma programação de VIDA e de ESPERANÇA, acima de tudo!

24 Horas.

JG – São Paulo – Enviado em dezembro de 2008.

Enfrentando a Compulsividade

Há 10 anos entrei para o J.A.. Fui recebida com muito carinho, embora estivesse muito tensa e sofrida, pois não conseguia me livrar do jogo e achava que, para mim não existia mais solução. O Passo lido foi o 1º de Recuperação. Ao ouvir e entender que, o que eu tinha, era uma doença chamada compulsividade, senti um enorme alívio. Eu só ouvia dos meus familiares que, eu era uma sem-vergonha, mentirosa, viciada e que eu não tinha mais limites para distinguir o que era certo ou errado. Que eu não passava de uma pessoa sem caráter.  Isto me fazia muito mal, porque na realidade eu não sabia o que se passava comigo. Eu não queria mais jogar e, no entanto, todo dia eu saia para jogar e voltava de madrugada com enorme peso na consciência. Por que eu fazia aquilo? Por que eu não conseguia parar?

Naquela primeira reunião percebi que eu precisava de ajuda e que eu poderia deter a doença, mas que nunca me livraria da compulsividade, uma vez que, ela fazia parte de mim. E, isto eu percebi com o tempo, que eu tinha que estar sempre alerta para que a compulsividade não migrasse para outras coisas. Depois de uma semana no J.A., entrei nas Lojas Americanas e comprei duas bolsas cheias de mercadorias. E estava feliz da vida, pois tinha gasto o dinheiro em algo útil. Dois dias depois, novamente cheguei com duas bolsas repletas e a minha mãe me olhou e perguntou se eu estava precisando de todas aquelas coisas. Surpresa eu respondi que não, mas que, finalmente, eu  estava gastando o dinheiro com coisas e não com o jogo. Ela me olhou seriamente e me alertou que eu tivesse cuidado para não me tornar uma compradora compulsiva e que era melhor que eu colocasse o dinheiro na poupança para equilibrar o meu orçamento. Foi um alerta que me ajudou e me ajuda até hoje. Fico me vigiando constantemente e a qualquer indício de compulsividade eu recuo imediatamente. E, isto, já me aconteceu várias vezes.

Nestes dez anos, aprendi a crer num Poder Superior, entregar-me a Ele e pedir que eu aceite a minha doença, e com a ajuda Dele trabalhe e me livre dos meus defeitos de caráter e, sempre, peço a este Poder Superior que me dê a Serenidade para que eu possa receber bem aquele que ainda esteja sofrendo, pois ele também  é parte importante de minha recuperação.

Os Passos de Recuperação, os Passos de Unidade e a prestação de serviço foram e, sempre, serão o caminho para a minha libertação do jogo, que tanto mal me causou.

Eu só posso agradecer ao Poder Superior, a esta Irmandade e a todos os Irmãos, que através de seus depoimentos, me ajudaram nesta caminhada de dez anos, longe do jogo.

Susie – Rio de Janeiro – Enviado em agosto de 2009.

 A  ajuda veio à distância

 

Há algum tempo, o jogo do bicho era apenas uma diversão em minha vida, não jogava todos os dias e as apostas eram baixas, mas, esta diversão foi se tornando terrível e incontrolável. Daí eu descobri as máquinas de caça níquel e também comecei a jogar. Como uma droga, logo me viciei e, em menos de três meses já tinha perdido muito dinheiro, jogando compulsivamente. Fiz empréstimos bancários em minha conta e na conta de parentes, além dos agiotas com quem eu também buscava dinheiro para manter a compulsão do jogo.

Sou casado, minha esposa estava grávida e quando minha filha nasceu eu continuei jogando. Ao completar um ano de jogo, no dia de meu aniversario, justo neste dia eu cometi a maior insanidade, perdi muito dinheiro de uma só vez, com um total de divida que ultrapassava o limite de minhas possibilidades. Foi aí que resolvi contar para a minha esposa. A tristeza e desânimo com o casamento tomaram conta dela, mas mesmo assim ela concordou em me ajudar e vendemos a nossa moto. Mas, isso não resolveu todas as dívidas.

Pensando já ter me livrado do problema, voltei a jogar no bicho, mas dessa vez, o volume de dinheiro aumentou muito, proporcionalmente à minha divida e infelicidade em casa, prejudicando, cada vez mais, a família. Minha mãe soube da situação e se dispôs a vender a casa para pagar minhas dividas e a minha esposa não quis me perdoar ao saber que pessoas da cidade, já comentavam sobre o meu caso de jogo.

Comecei então, a pesquisar na internet, meios para entender o problema e tentar me livrar dele. Ao encontrar o site de Jogadores Anônimos, percebi que se tratava de uma doença incurável. Enviei um e-mail ao ERSJAB e no dia seguinte, recebi resposta de alguém, a quem chamo de padrinho, com quem até hoje mantenho contato, o que está sendo fundamental em minha recuperação. Recebi também, por correio, alguma literatura em que constam os 12 Passos de Recuperação que, tento praticar em minha nova vida, já que, infelizmente na cidade do Girau do Ponciano, interior de Alagoas não há grupo de JA.

As dificuldades ainda não acabaram, considerando também as dívidas que, aos poucos estão sendo ressarcidas. A convivência com a família está melhorando aos poucos. Embora ainda não tenha estabelecido à confiança, todos já estão percebendo as diferenças em meu cotidiano. Sei que a batalha ainda será árdua, mas com fé e os 12 Passos de Recuperação eu vencerei e viverei feliz valorizando o que a vida tem de melhor a me oferecer. Hoje estou completando 6 meses e 28 dias sem aposta e estou vivendo um dia após o outro. Desejo a todos 24 horas de paz, serenidade e abstinência.

JRS – Girau do Ponciano – AL – Enviado em maio de 2012

 

Sofrimento e Recuperação

 

Conheci o bingo no ano de 1999, e foi com o pai da minha filha, me lembro que naquela noite ficamos por volta de uma hora, jogamos nas máquinas e ganhamos, era tanto dinheiro que achei que era o local exato para eu ganhar dinheiro e melhorar de vida. No início ia a cada 20 dias e às vezes, uma vez por mês. Até que no mesmo ano saí de férias e como não tinha nada para fazer resolvi ir até o Bingo Cruzeiro do Sul (Santana) e comecei a jogar até perder todo o dinheiro das férias. Achei um absurdo, pois trabalhei o ano todo e em questão de meia hora já havia perdido tudo, na ânsia de recuperar meu dinheiro, passei a frequentar mais vezes, até o momento em que já não buscava mais o prazer do jogo e sim recuperar o perdido. Perdi a noção do dinheiro, tempo, auto-estima, dignidade, amor próprio, dentre outros que joguei dentro do buraco daquelas máquinas. Já não me alimentava, não trabalhava, cheguei a receber duas cartas de advertência da empresa que trabalho, mas nada do que aconteceu fez com que eu parasse de jogar.

Lembro que deixei minha filha, na época menor de idade, do lado de fora do bingo para jogar, peguei dinheiro com agiotas, empréstimos nos bancos e com pessoas conhecidas, simulei assaltos, menti, manipulei, virei um trapo humano.

Eu achava que meu problema era financeiro e não o jogo, que, aliás, aquelas máquinas me fascinavam pelas luzes, era como se eu estivesse dopada e não percebia o tempo passar, quando jogava eu esquecia, deixava meus problemas fora de questão. Aliás, sempre tinha uma máquina preferida para eu jogar e não gostava quando tinha alguém no meu lugar, ou quando ficavam parados ao meu lado, eu achava que estavam gorando a máquina. Loucura total de uma doente.

Ingressei em Jogadores Anônimos no dia 25/11/02 e desde então nunca mais joguei. Cheguei cheia de dívidas e totalmente derrotada como pessoa, aprendi que tenho que viver um dia de cada vez, foi muito difícil no início ficar sem jogar, mas estou conseguindo aos poucos, hoje são quase 07 anos sem fazer uma aposta. No início da recuperação ia a todas as reuniões de São Paulo, fiz 90 dias/90 reuniões e se não tivesse conhecido Jogadores Anônimos hoje talvez eu estivesse louca, porque o jogo estava me levando à loucura ou quem sabe já estivesse morta ou presa e é exatamente isso que faz a doença da compulsão: Loucura, morte ou prisão.

Hoje levo uma vida totalmente diferente, já não preciso do jogo para resolver meus problemas, vivo com qualidade de vida e o que ganho em dinheiro é oriundo do meu trabalho. Hoje já paguei todas as dívidas relativas ao jogo. Vale à pena ficar sem jogar, conheci pessoas maravilhosas e assisto duas reuniões por semana, vale à pena entrar em recuperação e sempre agradeço ao meu Poder Superior (Deus como eu acredito) por mais 24 horas.

MA – São Paulo – Enviado em junho de 2009.

 A importância do Grupo

 

Meu nome é Carlos Alberto, sou um jogador compulsivo em recuperação, de Florianópolis – SC.

Minha adicção foi pelo jogo do bicho. Comecei a jogar com a idade de 17 anos em 1962, quando fui para o Rio de Janeiro. Solteiro ainda e, distante de minha família, comecei a sair com um grupo de amigos e, entre uma cerveja e outra, fazia uma aposta para passar o tempo. Essas apostas foram tomando proporções maiores e, quando dei por mim, já estava tomado pelo vício. Aí, juntou o jogo, a bebida e o cigarro.

Em 1991, retornei para Florianópolis, minha terra natal, onde continuei com os malditos vícios: Jogo, bebida e cigarro. Juntamente com o jogo do bicho vieram também as máquinas; foi quando conheci o fundo do poço. Estava no fundo do poço, quando assistindo a um canal de televisão, deparei-me com uma reportagem que falava sobre Jogadores Anônimos. Procurei saber o telefone da pessoa responsável e, foi essa a  minha salvação.

O grupo estava em seu início e pela força do Poder Superior, a pessoa que me atendeu me deu o endereço e disse que seria a terceira reunião do grupo. Isso aconteceu no dia 26 de janeiro de 2002. O grupo teve a sua primeira reunião no dia 22 de janeiro do mesmo ano. Nesse tempo de grupo eu tive 04 recaídas.

No dia 02 de julho de 2008, o Poder Superior se manifestou outra vez, por meio de um dono de casa de jogo de bicho. Ele chegou até a minha pessoa e disse para eu sair dessa vida que, não dava camisa a ninguém e que eu não ganharia nunca. Aí, no dia 03, eu procurei novamente o grupo, de onde estava afastado há quase dois anos. Portando, com a graça do Poder Superior, no dia 3 de julho de 2009 completarei 07 anos, 05 meses e 07 dias de grupo, e 01 ano de abstinência, desde a minha última recaída.

Quero dizer também que, com a minha boa vontade e com a ajuda do Poder Superior, deixei também de fumar e de beber. Agradeço em primeiro lugar ao Poder Superior e depois à minha esposa que, não deixou, em nenhum momento, de me dar força para eu controlar a minha doença.

Aos meus irmãos de grupo, também agradeço por me escutarem todas as vezes que nas reuniões dou o meu depoimento. Essa força é essencial para a minha recuperação.

Por fim, quero dizer aos irmãos que desejam se afastar de seu grupo, que não o façam, pois o afastamento da sala é uma prévia para a recaída.

Obrigado por terem lido esse meu depoimento e desejo a todos, 24 horas de Paz, Serenidade e Abstinência.

CA – Florianópolis – Enviado em junho de 2009.